Guerra com Saturno?
Recentemente publiquei em minhas redes sociais a possibilidade de o próximo desastre de 2020 ser uma possível guerra com Saturno, isso obviamente era uma brincadeira, afinal, não existe vida em Saturno para iniciar uma guerra contra nós...certo? Até onde sabemos não há vida por lá, mas isso não é impossível, o grande problema nisso não é se há ou não e sim como podemos saber se há ou não.
Para procurarmos e entendermos vida em outros lugares, é bom começarmos olhando para a vida na Terra. Existe uma diversidade enorme de seres vivos (animais, plantas, bactérias, fungos...), mas essa diversidade ainda não é tão diversa assim, todos encontrados até hoje são parentes em algum nível, ou seja, se voltarmos bilhões de anos na história do nosso planeta poderemos encontrar o primeiro ser vivo, um pequeno organismo que se dividiu tantas vezes que gerou toda a vida que existe hoje. Então tudo que conhecemos são os descendentes de um único ser, o que não é muita coisa se quisermos entender a vida fora de nosso planeta.
É possível que a vida tenha surgido várias vezes em nosso planeta ou que ela continue a surgir e nós ainda só não encontramos, também é possível que aquele algum descendente daquele organismo tenha extinto outras formas de vida que surgiram aqui, sem deixar restos para trás ou deixando de uma forma que não possamos detectar. Esse tipo de extinção não seria novidade na Terra. Houve uma época em que um novo tipo de seres vivos surgiram e começaram a se proliferar por nosso planeta produzindo um gás altamente tóxico que matou grande parte dos seres que aqui viviam, esse gás é o oxigênio que respiramos hoje. Se algo assim aconteceu no passado com outras formas de vida que não descendemos ainda não se sabe, mas seria possível.
Olhar para as condições do nosso planeta é essencial para entender a vida também, ter os elementos necessários para criar uma célula não é o suficiente, atmosfera, pressão, água e temperatura são fatores tão importantes quanto.
Quando procuramos por planetas que possam abrigar vida, seja por elas surgirem lá ou para que possamos fugir para esse planeta algum dia, procuramos elementos similares ao que temos na Terra como o tamanho do planeta, distancia entre o planeta e o sol dele e a existência de água líquida. Estamos procurando por vida parecida com a nossa, pois é a única forma de vida que conhecemos, mas isso não significa que é o único tipo de vida possível.
Existir diferentes formas de vida é algo problemático, primeiro porque mal saberíamos por onde procurar e segundo porque, mesmo achando a forma de vida, poderíamos nem sequer reconhecer eles como vivos. Por mais que pareça óbvio o que é vivo e o que não é, bom, não é nada fácil. O conceito de vida é ainda algo em aberto e existem seres como os vírus que causam muito problema nesse quesito, embora o consenso da comunidade científica seja de que eles não são vivos, ainda há muito debate em relação a isso. Os vírus evoluem como todo ser vivo, mas eles não apresentam as características mínimas para serem considerados células, eles nem sequer se encontram na nossa linha evolutiva. É possível que vírus tenham evoluído de um ser vivo diferente de nós, ou que eles tenham a mesma origem evolutiva que a gente, mas que foi se simplificando cada vez mais até se tornar irreconhecível para nós, ou também é simplesmente possível que eles sequer sejam vivos.
Os vírus não são o único exemplo de como somos péssimos para entender isso, os computadores/robôs e inteligencias artificiais também são um problema. Imagine que uma nave alienígena pousa em nosso planeta e de dentro dela saí um ser completamente feito de metal e digamos que ele é bonzinho o bastante para nos deixar fazer uma autópsia nele e com isso descobrimos que ele é completamente feito de peças e circuitos eletrônicos. Seria esse alienígena um ser vivo? Seria ele apenas um robô fabricado por alienígenas? Ou seria ele um robô que surgiu espontaneamente na natureza, assim como nós? Isso é difícil de se dizer, mas o problema não para por aí, inteligências artificiais criadas por nós também podem ser consideradas vida? Por mais que você diga que não, num futuro muito próximo elas estarão muito mais desenvolvidas a ponto de ser extremamente difícil de distingui-las de humanos reais, então como poderia você saber se está conversando com um ser vivo ou com uma inteligência artificial.
Esquecendo a questão de reconhecermos como vida ou não, como o MinutePhysics explica muito bem nesse vídeo (https://www.youtube.com/watch?v=KRGca_Ya6OM) podemos estar procurando por vida nos lugares errados. Da mesma forma que a grande maioria dos seres vivos é menor que nós, é de se esperar que os alienígenas sejam maiores que nós e menos numerosos. Estatisticamente falando, poucos grupos contém a maior parte das coisas e a maior parte dos grupos tem menos elementos do que aqueles poucos grupos.
Um jeito melhor de entender isso é olhar para algumas coisas do nosso cotidiano, por exemplo, futebol. Se pegarmos os 5 times que tem mais torcedores (Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Vasco) veremos que eles somam mais de 50% dos torcedores de todos os times, então TODOS os outros times do Brasil juntos tem menos torcedores que esses 5. É mais provável você torcer para um desses times do que para qualquer outro time do Brasil. Da mesma forma se pegarmos os 7 países mais populosos do mundo, teremos mais pessoas do que em todos os outros juntos e isso se aplica a tudo.
Sabendo disso é de se esperar que nosso planeta seja muito mais povoado que os outros planetas com vida, mas também é esperado que nosso planeta seja maior, com uma atmosfera mais transparente à luz do sol, entre outros fatores, então um planeta como o nosso é tudo que não devemos procurar!
Então, supondo que estejamos procurando nos lugares certos e que somos capazes de identificar vida alienígena depois de detectarmos ela, ainda resta um problema, seriamos capazes de sequer detecta-las?
A melhor forma de comunicação que temos é usando ondas eletromagnéticas, ou seja, luz. Luz em baixa frequência é o que permite praticamente toda nossa comunicação em longa distancia, rádios, televisão, celular e internet. A luz em baixas frequências tem várias vantagens, uma delas é que nós não vemos elas, então podemos facilmente emitir muito delas sem que isso nos incomode. Por mais que esse tipo de comunicação tenha existido desde o começo de nossas vidas, ela é algo recente.
Em 1864 as primeiras ondas eletromagnéticas foram previstas por Maxwell, mas só em 1887 é que elas foram geradas em laboratório, então, qualquer forma de vida alienígena que tenha se comunicado conosco antes dessa época, estaria utilizando uma forma de comunicação que nós sequer imaginávamos que existia. O mesmo pode valer para nossa comunicação com os aliens, nada garante que eles vão ter tecnologia para detectar nossas ondas de rádio ou até mesmo que eles vão emitir alguma. Porém isso não é tudo, da mesma forma que não tínhamos como detectar as ondas eletromagnéticas, pode ser que exista uma forma de comunicação interplanetária muito mais eficaz do que a que usamos aqui em nosso planeta e nós ainda nem podemos imaginar qual seria. Poderia haver todo um governo galáctico ao nosso redor utilizando uma comunicação completamente diferente e nós nem saberíamos.
Agora você pode estar pensando "Se tal governo galáctico realmente existisse, ele detectaria nossas ondas de rádio e viria falar conosco", mas isso é improvável. Da mesma forma que eles podem utilizar uma comunicação que não podemos imaginar ou compreender, nós usamos tecnologias que nenhum outro ser vivo no planeta pode imaginar ou compreender. Assim como sabemos da existência desses seres vivos em nosso planeta, esses alienígenas podem saber de nossa existência, mas não é por isso que eles fariam contato. Vemos animais e plantas todos os dias, mas nem por isso paramos para tentar conversar com algum deles, não tentamos explicar o que é internet e muito menos pensamos em incluir eles em nossos governos. Ninguém para e pensa "Nossa, mas o direito dessa orquídea de votar para o presidente de nosso país?", então não temos porque esperar que os alienígenas façam o mesmo.
Tendo tudo isso em mente, eu trago de volta meu questionamento inicial "E se estivéssemos em guerra com Saturno?", quando mandamos sondas para outros planetas de nosso sistema solar, temos que tomar cuidado com o que vai acontecer com ela depois, então sondas que estão próximas de lugares que acreditamos serem propícios à vida (como uma das luas de Saturno) são sacrificadas para não contaminar esses lugares com a vida que existe na Terra (alguns seres vivos podem sobreviver em satélites e sondas no espaço), acabando com a possibilidade de causarmos uma extinção em massa em lugares que podem ter vida extraterrestre. A sonda Cassini é uma dessas sondas, após cumprir sua missão em Saturno, ela foi ordenada a se jogar contra o planeta. Um ato desses pode facilmente ser visto como uma declaração de guerra entre os planetas, mas pensando que se houver alguma forma de vida muito avançada lá que não podemos detectar, eles nem sequer se dariam ao trabalho de declarar guerra contra nós, assim como você não declara guerra contra uma barata que está na sua casa te enchendo o saco, você só mata ela e segue com a sua vida. Se houver uma vida muito avançada em Saturno, tudo o que NÃO queremos é ser uma barata enchendo o saco deles.
Lista com a quantidade de torcedores: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_das_maiores_torcidas_de_futebol_do_Brasil
Lista com a população de cada país: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_pa%C3%ADses_por_popula%C3%A7%C3%A3o
Matéria sobre o fim da Cassini: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/09/cassini-tudo-sobre-missao-que-chegou-mais-perto-de-saturno.html
Comentários
Postar um comentário